sábado, 20 de fevereiro de 2010

Quando o porco morreu

Quando o porco morreu
Uma vez, fui com meu avô, meu tio e minha irmã num sítio.
Meu tio ia matar uma vaca e um porco.
Lembro do choro estridente, quase humano do porco.
Lembro do buraco cavado para o sangue escorrer, e, da punhalada precisa, embaixo da pata direita dianteira do animal.
Direto no coração.
Não comi daquela carne, não pude...
estava tão triste...
Estranho lembrar deste episódio assim..., de trás pra frente.... Ahhhh!
Não posso. Não posso pensar na cena que visualizei e que é real.
Lembrei da vaca...
Dos seus últimos instantes...
Lembro dela ruminando no coxo farto da última refeição, dos seus olhos úmidos..., quase lacrimejantes.
O porco gritava desesperado, mas ela morreria primeiro.
Pressentindo algo, ela começou ficar agitada, nervosa, dava coices no ar, mugia e dava cabeçadas na cerca, tentando escapar dali...
Que nada....
Ali no curral, veio a machadada mortal, certeira bem no meio da cabeça ...
Lembro do som... (crréc) e do machado cravado entre os olhos…
E dos olhos...., como foram mudando de cor e brilho...
É como se visse em câmera lenta.
Meu tio, em pé, braços rijos, erguidos e estendidos, machado na ponta, nas mãos unidas, com um único movimento circular para trás e para cima e pfúm... crréc...
Não lembro se comi daquela carne.
Que vergonha.

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